FUNDAÇÃO
DO GRANDE ORIENTE DO BRASIL
VENERÁVEL MESTRE - (O) - Meus Irmãos,
nesta instrução vamos conhecer a história do Grande Oriento do Brasil. O Grande
Oriente do Brasil, criado nas asas dos ideais emancipadores e libertários que
empolgavam os brasileiros, nos primeiros anos do Século XIX, a partir das três
Lojas que lhe deram sustentação inicial e apesar de alguns percalços, não parou
mais de crescer e de acolher homens de valor e de destaque nas letras, nas
artes, nas ciências e nas armas do Brasil, os quais teriam atuação marcante em
muitos episódios sociais e políticos do pais, a ponto de se poder dizer, sem
medo de errar, que não se pode escrever a história do Brasil independente, sem
entrar na história do GRANDE ORIENTE DO BPASIL.
Irmão Primeiro Vigilante, como ocorreram os primeiros
movimentos para a criação de um Grande Oriente nacional?
PRIMEIRO VIGILANTE -
Aos 28 dias do terceiro mês do Ano da Verdadeira Luz de 5.822
(17.06.1822), em sessão da Loja Comércio e Artes, ao Oriente do Rio de Janeiro,
presidida pelo Irmão Graccho (Ir.: João Mendes Viana), criou-se e inaugurou-se
o Grande Oriente Brasiliano e, por aclamação, nomeou-se como Grão-Mestre da
Maçonaria Brasileira o Ir.: José Bonifácio de Andrada e Silva, do que foi
participado pelos IIr.: Diderot (Joaquim Gonçalves Ledo) e Demétrio (Antonio
dos Santos Cruz), que voltaram à Loja com a notícia de que o Andrada aceitava o
encargo. Esta sessão abrangia todo o povo maçônico brasileiro porque esta era a
única Loja existente e regular no Rio de Janeiro.
VENERÁVEL MESTRE - Irmão Segundo Vigilante, como
ficou constituída a primeira diretoria do recém fundado Grande Oriente Brasiliano?
SEGUNDO VIGILANTE -
Venerável
Mestre, nessa mesma sessão elegeu-se a primeira Diretoria do Grande Oriente
Brasiliano, sendo Primeiro Vigilante o Ir.: Joaquim Gonçalves Ledo, Segundo
Vigilante o Ir.: João Mendes Viana, Grande Orador o Ir.: Januário da Cunha
Barbosa, Grande Secretário o Ir.: Manoel José Oliveira, Promotor o Ir.:
Francisco Luiz Pereira da Nóbrega e sendo Chanceler o Ir.: Francisco das Chagas
Ribeiro, que tomaram posse imediatamente.
VENERÁVEL MESTRE - Irmão Orador, o que mais
ocorreu nessa sessão de fundação do Grande Oriente Brasiliano?
ORADOR - Foi nessa mesma sessão, que criaram
outras duas Lojas, também metropolitanas e eleitas as respectivas Diretorias,
ficando os IIr.: Manoel dos Santos Portugal, Pedro José da Costa Barros e
Albino dos Santos Pereira, respectivamente, como Veneráveis das Lojas Comércio
e Artes, Esperança de Niterói e União e Tranqüilidade. O Grande Oriente do
Brasil começou já sob a influência dos ideais de emancipação política, uma vez
que a sessão de fundação foi encerrada com os presentes prometendo que o Grande
Oriente teria, como meta específica, a independência do Brasil.
VENERÁVEL MESTRE - Meus Irmãos, agora se faz
necessário que conheçamos dois maçons cuja história se entrelaça com a história
do nosso pais. São eles: Joaquim
Gonçalves Ledo e José Bonifácio de Andrada e Silva.
Irmão Secretário, falai-nos sobre Joaquim Gonçalves
Ledo.
SECRETÁRIO - Joaquim Gonçalves Lêdo, nascido no
Rio de Janeiro em 1781 e morto em 1846, foi seguramente o maior maçom
brasileiro de sua época de atividade.
Chegou a iniciar o curso de medicina em Coimbra, em Portugal e, antes de
concluir os estudos, retornou ao Brasil e assumiu um emprego de escriturário da
contadoria dos Arsenais do Exército.
Abraçou a causa da emancipação política e lutou, desabridamente, pela
independência e fez da Maçonaria o centro incrementador das idéias de liberdade. A 15 de setembro de 1821 fundou, junto com o
cônego Januário da Cunha Barbosa, o "Revérbero Constitucional
Fluminense", jornal que teve a mais extraordinária influência no movimento
libertador, pois contribuiu para a formação de uma consciência brasileira,
despertando a alma da nacionalidade.
Trabalhou pela reinstalação da Loja Comércio e Artes, em 1821. Em 1822,
em 13 de maio, por obra do grupo de Ledo, através de proposta de Domingos Alves
Branco Muniz Barretto, o príncipe regente D. Pedro recebia o título de Defensor
Perpétuo do Brasil. Já o
"Fico", de 9 de janeiro de 1822, fora obra exclusiva da Maçonaria,
através de Clemente Pereira, José Joaquim da Rocha e de Ledo. Foi um dos fundadores do Grande Oriente do
Brasil, em 1822, ocupando o cargo de Primeiro Grande Vigilante.
VENERÁVEL MESTRE - O que podeis acrescentar,
Irmão Primeiro Vigilante?
PRIMEIRO VIGILANTE -
Foi também sob sua influência, que o Grão-Mestrado do Grande
Oriente do Brasil, no final de setembro, foi entregue a D. Pedro. Graças à rivalidade de seu grupo com José
Bonifácio, foi processado por este, então Ministro de Estado, a 30 de outubro
de 1822, após o fechamento do Grande Oriente, tendo de fugir, para não ser
preso e deportado, como Januário, Clemente e Alves Branco. Com a queda dos Andradas, em julho de 1823,
ele voltou ao Brasil, assumindo a cadeira de Deputado, para a qual tinha sido
eleito em 1822. Viria, ainda a
participar da reinstalação do Grande Oriente (1831/1832). Permaneceu na Câmara até 1834, afastando-se,
depois, de tudo e vindo a falecer em 19 de maio de 1847.
VENERÁVEL MESTRE - Dizei-nos agora, Irmão
Segundo Vigilante, sobre a vida de José Bonifácio?
SEGUNDO VIGILANTE -
José Bonifácio
de Andrada e Silva, nasceu em Santos, SP, em 13 de junho de 1763 e foi cientista,
político, ministro de Estado, e primeiro - além de terceiro – Grão Mestre do
Grande Oriente do Brasil. Estudou
Ciências Naturais em Coimbra, especializou-se em metalurgia. Pertencente a diversas
entidades científicas da Europa, descreveu doze novos minerais e, em sua
homenagem, foi dado o nome de andradita a uma variedade cálcio-ferrosa de
granada. Muito culto, era poliglota,
falando e escrevendo francês, grego, latim, alemão e inglês. Como soldado, foi tenente-coronel do Corpo
Acadêmico de resistência a Napoleão. Em
1819 regressou ao Brasil, ingressando na política e, em 1821, foi
Vice-Presidente da Junta Governativa de São Paulo. A 18 de Janeiro de 1822, José Bonifácio
chegava ao Rio para assumir o Ministério do Reino e de Estrangeiros. Por ser o homem de maior expressão na
política nacional no momento e por estar profundamente envolvido na luta pela
independência, em 17 de junho de 1822 foi escolhido para ser o Grão-Mestre do
Grande Oriente do Brasil.
VENERÁVEL MESTRE - Irmão Orador, como foi a
atuação política de José Bonifácio?
ORADOR - Como ministro ele conseguiu o
reconhecimento e o apoio internacional à causa da emancipação política do
Brasil, sendo que, a 21 de janeiro de 1822, ele ordenou ao Chanceler-Mór
(equivalente a Ministro da Justiça) que não publicasse nenhuma lei vinda de
Portugal, sem a sua prévia aprovação e do príncipe. Discordava do grupo de Ledo porque pregava
uma Independência com união brasílico-lusa, ao invés de rompimento definitivo. Na luta por maior prestígio político e
influência sobre D. Pedro, desencadearam-se hostilidades entre os dois grupos,
culminando com o processo de outubro de 1822, contra o grupo de Ledo, conhecido
como "Bonifácia". A 17 de
julho de 1823, ocorreu a sua queda, seguida de prisão e desterro. Só voltaria ao país em 1829 e, após a
abdicação de D. Pedro I e a pedido deste, tornou-se tutor do futuro D. Pedro
II. Ainda, em 1831, participaria da
reinstalação do Grande Oriente do Brasil, voltando a ser o seu
Grão-Mestre. Em 1823 foi destituído da
tutoria, processado, preso e absolvido posteriormente. Morreu em 6 de abril de 1838, em Niterói.
VENERÁVEL MESTRE - Qual foi a conseqüência das
discordâncias entre as idéias de Gonçalves Ledo e José Bonifácio, Irmão Secretário?
SECRETÁRIO - Ocorreu
o fechamento do Grande Oriente do Brasil, Venerável Mestre. Isso porque grande número de maçons,
principalmente o grupo de Ledo, no Rio, além de outros espalhados pelo Brasil,
professava idéias republicanas, além de estar o Imperador, por razões políticas,
agastado com a disputa entre os grupos de Ledo e José Bonifácio. D. Pedro I, enviou ao seu Primeiro Grande
Vigilante, a seguinte ordem: "Meu Ledo: Convindo fazer certas
averiguações, tanto públicas como particulares na Maçonaria, mando primo como
Imperador, segundo como Grão Mestre, que os trabalhos se suspendam até Segunda
ordem Minha. É o que tenho a participar-vos agora. Resta-me reiterar os meus protestos como
Irmão Pedro Guatimozin G.: M.: - S. Cristóvão, 21 de Outubro. 1822. P. S. - Hoje mesmo deve ter execução e espero
que dure pouco tempo a suspensão porque em breve conseguiremos o fim que deve
resultar das averiguações".
VENERÁVEL MESTRE - Irmão Primeiro Vigilante,
como ocorreu a reinstalação do Grande Oriente do Brasil?
PRIMEIRO VIGILANTE - Após a abdicação de D. Pedro
I, em 07 de abril de 1831, os maçons começaram a se reagrupar, percebendo a
existência de um clima mais liberal, o qual seria propício aos trabalhos
maçônicos. Por isso, que os remanescentes
do primeiro Grande Oriente brasileiro, em outubro de 1831, reuniram-se,
reinstalando os três primeiros quadros.
E, para que fosse legal esse ato, os primeiros oficiais da Obediência
instalada em 1822, juntaram-se em Grande Loja, juntamente com o primeiro
Grão-Mestre nomeado, sob a determinação de que todos só serviriam
provisoriamente, até que fosse concluída a Constituição do Grande Oriente do
Brasil, sucessor do Grande Oriente Brasiliano.
Logo depois que foi reinstalado, o Grande Oriente publicou um manifesto
dirigido a todos os maçons brasileiros às Obediências estrangeiras, anunciando
que seus trabalhos retomavam força e vigor.
Dessa forma, o Grande Oriente do Brasil, que se considerava sucessor do
Grande Oriente Brasílico (ou Brasiliano), de 1822, seria reinstalado a 23 de
novembro de 1831.
VENERÁVEL MESTRE - Irmão Segundo Vigilante,
falai-nos sobre o Abolicionismo, movimento esse com forte apoio da maçonaria.
SEGUNDO VIGILANTE -
Venerável
Mestre, o movimento abolicionista tornou-se mais intenso a partir de 1870,
embora houvesse a atitude pioneira da República Riograndense, originária da
Revolução Farroupilha, liderada pelos maçons Bento Gonçalves e Davi Canabarro,
fazendo libertar, de acordo como decreto de 11 de maio de 1839, os escravos
aptos para a profissão das armas, oficinas e colonização. Depois da Lei Eusébio de Barros, de 1850, que
extinguia o tráfico, a escravatura continuou a ser mantida, no Brasil, pela
reprodução. O governo francês, em 1867, solicitou a libertação total dos
escravos no Brasil. Mas as Lojas já se
encontravam em plena efervescência abolicionista, além de republicana.
VENERÁVEL MESTRE - E como foi a participação das Lojas
Maçônicas, Irmão Orador?
ORADOR - O final da década seria de intenso trabalho maçônico, surgindo,
então, as duas primeiras propostas de Lojas a tratar da libertação dos
escravos. A primeira surgiu em 7 de
agosto de 1869, na Loja Perseverança III, de Sorocaba, SP, apresentada por
Ubaldino do Amaral e José Leite Penteado e que criava um caixa para libertação
de meninas. O segundo projeto foi apresentado em 4 de abril de 1870, por Ruy
Barbosa, que então cursava o 5º ano na Academia de Direito de S. Paulo, à
apreciação de Loja América, de S. Paulo, para ser encaminhada ao Grande Oriente
dos Beneditinos, ao qual esta Loja se filiara. O projeto de Ruy Barbosa,
constituiu-se mais como uma apresentação de uma idéia, porque não foi aprovado
pela Loja América e terminou arquivado no Grande Oriente dos Beneditinos.
VENERÁVEL MESTRE - Irmão Secretário, dizei-nos dos
maçons e das idéias republicanas.
SECRETÁRIO - Venerável Mestre, a campanha
abolicionista foi feita por maçons que, também, sonhavam com a república e,
enquanto defendiam a primeira, não descuidavam de disseminar as idéias
republicanas. Ao mesmo tempo que a política
nacional da época se via ás voltas com a Questão Militar, que resultou na
fundação de muitos clubes republicanos de inspiração maçônica, destacaram-se
muitos maçons civis, que seriam chamados de republicanos históricos: Quintino
Bocaiúva, Campos Salles, Prudente de Moraes, Silva Jardim, Rangel Pestana,
Francisco Glicério, Américo de Campos, Pedro de Toledo, Américo Brasiliense,
Ubaldino do Amaral, Aristides Lobo, Bernardino de Campos e outros.
VENERÁVEL MESTRE - Contai-nos Irmão Primeiro
Vigilante, como os maçons influenciaram a proclamação da República.
PRIMEIRO VIGILANTE -
Várias Lojas aprovavam propostas contrárias ao advento de um
terceiro reinado e pela implantação da república. Assim é que, a 21 de fevereiro de 1887, na
Loja VIGILÂNCIA E FÉ, de S. Borja, RS, era aprovada proposta do Ir.: Aparício
Mariense da Silva, no sentido de que se evitasse a implantação do Terceiro
Reinado. As Lojas INDEPENDÊNCIA e
REGENERAÇÃO III, ambas de Campinas, SP, a 20 de junho de 1888, enviavam prancha
a todas as Lojas solicitando apoio para uma conspiração que impedisse o
Terceiro Reinado. Estas tratativas
culminaram na preparação de um levante que deveria ocorrer a 20 de novembro de
1899, sempre tendo maçons à frente, sendo certo que, numa reunião na casa de
Benjamin Constant, em 10 de novembro de 1899, presentes Francisco Glicério e
Campos Salles, decidiu-se pela queda do Império. Benjamin Constant foi incumbido de persuadir
o Marechal Deodoro, já que este era
muito afeiçoado ao Imperador. Por fim,
Deodoro assumiu o comando do movimento e proclamou a República.
VENERÁVEL MESTRE - Esta é a história do Grande Oriente do Brasil. É a soma da história
dos maçons. Os maçons combateram o
colonialismo porque acreditavam na autodeterminação dos povos. Combateram a escravidão porque acreditavam
que todos são iguais dentro de uma sociedade igualitária e justa. Combateram o regime imperial, porque
acreditavam na República democrata como instrumento para permitir a
representatividade de todos, no comando do destino de cada um, como cidadãos. Combateram a ditadura porque não aceitavam a
usurpação política. Estes eram os
principais inimigos da sociedade naquela oportunidade, e portanto eram também
os principais inimigos da Maçonaria.. Em todos os momentos em que não houve prevalência da Verdade, possibilitando
o avanço da Injustiça, a história
nos mostra a presença de um maçom pronto ao combate, para restabelecer a Ordem
e o domínio do Justo.
VENERÁVEL MESTRE - Para que nos preparamos,
Irmão Segundo Vigilante?
SEGUNDO VIGILANTE - Nós fomos, durante todo o
nosso aprendizado maçônico, preparados para agir como aqueles que tiveram a
perspicácia de reconhecer no seu devido tempo os problemas sociais, que deviam
ser enfrentados e resolvidos, e por isso, hoje são lembrados e exaltados. Devemos ter os mesmos atos individuais de
coragem que tiveram os maçons que hoje fazem parte da história da
Humanidade. Temos a obrigação de agir
para que, no futuro, sejamos citados pelos maçons que nos sucederem, e que, da
mesma forma, os nossos nomes fiquem registrados, como cidadãos atuantes, na
memória histórica de cada rua, cada bairro, cada cidade, cada Estado, por toda
a Nação. E que esses maçons do futuro
tenham em nós, como tivemos nos maçons do passado, o exemplo motivador da
defesa da cidadania como instrumento de busca de uma sociedade mais
igualitária, mais justa e fraterna, portanto mais feliz.
E neste começo de século, qual é o grande inimigo que os
maçons devem combater, Irmão Primeiro Vigilante?
PRIMEIRO VIGILANTE - O principal
inimigo da sociedade chama-se IMPUNIDADE. Combater a impunidade, eis o grande chamamento do nosso tempo. A IMPUNIDADE
é a causadora dos maiores
problemas da sociedade atual: a corrupção
e a falta de segurança.
Só é corrupto, seja ativa
ou passivamente, quem tem a certeza de estar impune. Onde o braço da lei não chega é possível o
domínio da violência. Neste momento o maçom deve estar
consciente dos problemas da sua época, para não passar omisso pelo seu
tempo. Temos a obrigação, por formação e
compromissos juramentados, de defender os mais fracos e de não conviver com
atitudes desonestas, buscando trazê-las à transparência necessária a que as
leis possam atingi-las.
VENERÁVEL MESTRE - Maçons, só através da participação direta nos destinos da sociedade poderemos construir o mundo que desejamos. Os irmãos devem assumir as entidades civis e
assistenciais; e a Maçonaria deve votar em maçons, para que possamos atingir os
nossos objetivos.
(O)- Está encerrada a instrução.
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